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Como nascem os livros?

Por que alguém decide escrever um livro? O que leva uma pessoa a se dedicar a esse ofício — ou a qualquer outro de natureza criativa?

Além do papel de registrar e transmitir conhecimento ao longo das gerações — permitindo o aprendizado e a criação de ideias mais elaboradas —, muitos de nós carregam uma NECESSIDADE.

Uma necessidade de absorver e expressar o mundo ao redor de forma singular. Necessidade de dar voz e forma ao universo que existe DENTRO de nós.

Seja como hobby ou profissão, essa expressão nos completa; sem ela, sentimo-nos deslocados, desconectados, incompletos.

E assim, dessa necessidade, nascem os livros.

Inspiração: o que é? onde vive? do que se alimenta?

Como se inspirar? Será que a inspiração é uma epifania? Algo raro, exótico, milagroso? A resposta mais simples é: não.

Às vezes, encontramos uma ideia empolgante que surge quase como mágica e nos impulsiona a criar intensamente em pouco tempo, mas a verdade é que a maior parte do trabalho vem do esforço consistente e intencional.

No entanto, há algo que podemos — e devemos — cultivar: a atenção às histórias ao nosso redor. E isso se aplica a absolutamente tudo: notícias de jornal, filmes, quadrinhos, novelas, séries, fofocas, lendas… tudo pode se transformar em inspiração.

Como contador de histórias, já me inspirei em obras inteiras, criando versões que refletiam meu olhar. Já busquei ideias em letras de canções, na minha própria curiosidade, em cenas marcantes de filmes ruins e, claro, em filmes bons. Já tirei inspiração dos meus próprios sonhos (aqueles que temos dormindo) mais vezes do que consigo lembrar…

No fim, a experiência humana em sua totalidade é nosso maior repertório criativo. Basta estarmos atentos ao mundo ao nosso redor.

Como começar a escrever?

Cada um tem o seu processo favorito de começar uma história. Tudo começa com uma página em branco.

Quanto a mim, às vezes me ocorre uma ideia, em uma frase que seja, que considero interessante, abro um arquivo novo e anoto ela lá. O tempo dirá se ela vai sobreviver como uma boa ideia ou não.

Quando me pego ruminando uma ideia por dias ou semanas, mesmo que não vá trabalhar nela no momento, abro o arquivo e anoto as ideias que foram ruminadas. Podem ser sobre os personagens, sobre a trama, sobre o cenário ou um pouco de tudo isso.

Nesse primeiro contato, anoto em tópicos — fios de ideias — tudo o que me vem à mente e, nesse processo, outras tantas ganham vida. Parece caótico, mas essa organização me ajuda a abrir espaço na minha cabeça para começar a criar uma trama que entrelace esses fios.

Já comecei um livro do final. Já comecei do início e já comecei do meio. Já comecei com um diálogo e já comecei com descrição. O importante é seguir o fio condutor que tem em mãos e depois, com trabalho e paciência, entrelaça-lo com todos os outros na trama final.

Empaquei no meio do livro, e agora?

Empacar no meio de um trabalho acontece com todos nós, eventualmente. Pode ser que você se perca na forma de descrever algo, ou não saiba qual consequência dar a determinado evento. Pode ser que não saiba para onde levar um personagem, ou como conectar o ponto em que está atualmente com o que planejou para o futuro. Ou, simplesmente, esteja sem inspiração no momento.

Acontece.

As causas podem ser muitas: cansaço, pressão, falta de tempo, preocupações demais na cabeça, e por aí vai. Mas e aí, o que fazer para seguir adiante?

O dia em que eu descobrir uma forma garantida e universal para resolver esse problema, tenho certeza de que vou ganhar um Nobel por isso! Mas, por enquanto, vou te contar o que EU faço nesses casos.

1 – Se já tenho planos para uma cena ou capítulo futuro: paro o que estou fazendo no momento e passo para onde sei o que fazer. Como mencionei em outro post, já comecei um livro pelo final. Não porque queria inovar a narrativa (e tampouco seria uma inovação), mas simplesmente porque eu sabia como queria terminar a história, mas não sabia como começar.

2 – Dou um tempo: um pouco de distanciamento e descanso podem fazer maravilhas. Muitas vezes, a ansiedade com o que temos em mãos só atrapalha. Descansar ajuda a permitir que a criatividade volte a fluir naturalmente.

3 – Corro: tipo, literalmente. Tem sido minha principal atividade física nos últimos anos e, quando estou correndo, esse é um momento só meu. Tudo o que pode me preocupar – como problemas no trabalho, na família, financeiros, de saúde, relacionamentos (etc.) – se esvai. Enquanto tenciono meus músculos, minha mente relaxa e, frequentemente, tenho (ou desenvolvo) novas ideias.

Essas são algumas coisas que faço e funcionam para mim. Cada um acaba desenvolvendo seu próprio processo.

Dicas de escritor

Aqui vão algumas estratégias que sempre me ajudam no processo criativo. São ações que desenvolvi no decorrer do tempo, para lidar com as dificuldades que todos nós enfrentamos ao escrever. Espero que alguma delas lhe sejam úteis.

  1. Leia sempre: não me refiro tanto a pegar um livro e devorá-lo do início ao fim, mas sim de pegar um ou mais livros já lidos – e isso é importante – e ir lendo em paralelo ao seu trabalho de escrever. Pelo menos eu, quando leio pela primeira vez um livro que me encanta, me pego tão imerso na leitura que sou incapaz de sequer dar atenção à forma. Minha imaginação é tão vívida que muitas vezes confundo a história de um livro com filme ou série, lembrando detalhadamente de ter visto aquilo, quando na verdade, fui tudo construído pela minha imaginação. Ao ler um livro pela segunda vez, e tanto faz que parte do livro você pode dar maior atenção à forma e vai acabar percebendo como outros autores lidam com as dificuldades que você pode vir a enfrentar, seja na forma de descrever algo, ou algum desenrolar da trama.
  2. Conte com seus amigos: Quando revisamos algo que produzimos, normalmente deixamos alguma coisa passar. Isso porque nós já SABEMOS o que está ali, o processo de leitura não é o mesmo do que ler algo pela primeira vez. Além disso, ninguém sabe a respeito de todos os assuntos, e tudo bem. Conte com amigos para serem seus leitores beta. Eles poderão não apenas apontar possíveis erros que tenham passado por sua revisão, como podem lhe corrigir sobre temas que você não domina e eles entendem mais. Podem até apontar incongruências ou ausências que você não sentiu ao escrever, mas eles sentiram ao ler.
  3. Dicionário de sinônimos: mantenha sempre um aberto enquanto estiver escrevendo. Não precisa ser físico, como fizeram os nossos ancestrais, pode ser uma aba do navegador de internet na página do dicionário de sinônimos. A repetição de palavras pode – e deve – ser evitada ao máximo, a não ser que seja intencional. E, sinceramente, muitas vezes elas estão lá simplesmente porque não temos em mente uma opção de variação naquele momento.

 

Como construir um mundo?

Se você está criando seu próprio cenário — seja futurista, contemporâneo ou de fantasia — certamente já se fez essa pergunta: como construir um mundo envolvente e único? Temos inúmeras referências à nossa disposição, de Tolkien a Jorge Luis Borges, de William Gibson a Douglas Adams, Asimov, Érico Veríssimo e tantos outros. Mas como criar algo que se destaque? Será que é necessário desenvolver moedas, geografia, clima, política, idiomas, cultura…?

A verdade é que a lista do que pode ser criado é tão vasta quanto os detalhes do nosso próprio universo — mas isso não significa que você precise de tudo isso.

O mais importante é a experiência dos seus personagens. O que eles veem, cheiram, sentem e experimentam será o que o leitor também perceberá.

Se deseja um mundo rico e envolvente, seus personagens precisam interagir com ele. Um glossário de informações é muito menos interessante do que vê-los lidando com esses aspectos ao longo da história. Deixe que sintam o clima na pele — que tremam de frio, suem sob o sol escaldante, se molhem na chuva inesperada. É muito mais envolvente mostrar um personagem frustrado porque a tempestade transbordou o rio e destruiu a ponte do que simplesmente dizer: “Neste mundo, o verão tem temperaturas entre 20ºC e 31ºC, com chuvas de X milímetros por mês.”

Evite sobrecarregar o leitor com informações irrelevantes para a trama só porque você as planejou. Em vez disso, insira esses detalhes de forma natural, para que contribuam para a história. Assim, seu leitor não apenas conhecerá seu mundo, mas se sentirá parte dele.

Como saber se a história que estou trabalhando é boa?

Essa é a questão, não é? Como saber se a história que você está trabalhando é realmente boa?

As respostas podem ser variadas e vir de diferentes fontes. Às vezes, até podem ser contraditórias e, ainda assim, verdadeiras.

A verdade é que não há como prever com certeza o que os outros vão gostar. Alguns leitores irão se conectar com sua história, enquanto outros não. Então, como saber se você está no caminho certo?

Uma resposta – que não é a única possível – é: você gostaria do que está lendo se fosse apenas um leitor? Se essa história fosse uma série, um quadrinho ou um filme, ela te atrairia? Você se envolveria com seus personagens?

Parece simples – e de certa forma, é – mas exige um esforço ativo de avaliação. Muitas vezes, as ideias surgem na sua mente e, empolgado, você as escreve achando que, só porque fluem naturalmente, já estão boas o suficiente. Mas nem toda ideia é boa, e quase sempre há espaço para melhoria.

Coloque-se no lugar do leitor. Imagine que o que você está lendo foi escrito por outra pessoa. A história te prenderia? Você continuaria interessado?

E, claro, se tiver a oportunidade, peça feedback. A opinião de amigos e leitores pode trazer insights valiosos e revelar aspectos da sua história que você nem havia percebido!

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